25 de nov. de 2011

O EXERCÍCIO DO OUTRO

Um sujeito encontra um velho amigo - que vive tentando acertar na vida, sem resultado. "Vou ter que dar uns trocados para ele", pensa. Acontece que, naquela noite, descobre que seu velho amigo está rico, e veio pagar todas as dívidas que havia contraído no decorrer dos anos.

Vão ate um bar que costumavam frequentar juntos, e ele paga a bebida de todos. Quando lhe indagam a razão de tanto êxito, responde que até dias atrás estava vivendo o outro.

- O que é o outro? - perguntam.

- O outro é aquele que me ensinaram a ser, mais que não sou eu. O Outro acredita que a abrigação do homem é passar a vida inteira pensando em como juntar dinheiro para não morrer de fome quando ficar velho. Tanto pensa, e tanto faz planos, que só descobre que está vivendo quando seus dias na terra estão quase terminando. Mas aí é tarde demais.

- E você, quem é?

- Eu sou o que qualquer um de nós é, se escutar seu coração. Uma pessoa que se deslumbra diante do mistério da vida, que está aberta aos milagres, que sente alegria e estusiasmo pelo que faz. Só que o Outro, com medo de decepcionar-se, não me deixava agir.

- Mais existe sofrimento - dizem as pessoas no bar.

- Existem derrotas. Mas ninguém escapa delas. Por isso, é melhor perder alguns combates na luta por seus sonhos que ser derrotado sem sequer saber por que você está lutando.

- Só isto? - perguntam as pessoas no bar.

- Sim. Quando descobri isto, acordei decidido a ser o que realmente sempre desejei. O Outro ficou ali, no meu quarto, me olhando, mas não o deixei mais entrar - embora tenha procurado me assustar algumas vezes, me alertando para os riscos de não pensar no futuro.

"A partir do momento em que expulsei o Outro da minha vida, a energia Divina operou seus milagres."

FONTE: Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei, de Paulo Coelho.