8 de dez. de 2011

RESPONSABILIDADE AFETIVA

Julgo necessário esclarecer que o termo “responsabilidade afetiva” não é meu. Certa vez o ouvi e este não saiu mais da minha cabeça, sendo que reapareceu fortemente ao ler e compreender o texto de Arnaldo Jabor, inserido anteriormente.

Compreendendo os termos da nossa temática separadamente, responsabilidade é determinar a própria vontade e ações, enquanto afetividade é a qualidade ou caráter de ser afetivo, ou seja, de exercer o amor. O significado de tais termos, embora retirados do dicionário Aurélio, estão interpretados de forma sucinta e coerentes com os nossos objetivos.

Partindo daí, apontamos como primeira vontade de exercer o amor, ou seja, de aprendermos a ter reponsabilidade afetiva, conosco mesmos. Sim, pois ninguém pode dar aquilo que não tem e, se eu não sou capaz de exercer o amor com o meu próprio ser, como serei capaz de expandir isso ao outro. É o amar a si mesmo, sem orgulho, sem pretensão, sem egoísmo, sem vaidades. É o aprender o que é bom para si mesmo e praticar tal ação diariamente. É determinar, e através da força de vontade, lutar por aquilo que considero bom e saudável para o meu próprio ser.

Quando aprendemos e determinamos o que realmente queremos e como queremos, teremos o mínimo de condições de expandir isso ao próximo. No entanto, abre-se um parênteses, pois este processo de conhecer a si mesmo e, baseado nisso determinar as suas ações, pensamentos e sentimentos, não acontece do dia para a noite e não se finda em alguns dias, meses ou anos.  Este é um processo de Reforma Intima que dura por toda eternidade e que com toda certeza não será nada fácil. Obstáculos vão parecer, dificuldades haverão de surgir, decepções nos pegarão no caminho, tristezas nos arrebatarão. Mas, se a base é a – força de - vontade de exercer o amor, tais fatos somente servirão como trampolins para saltos mais altos da evolução.

Ao iniciarmos este processo de amadurecimento do nosso ser seremos capazes também de perceber o quão vazia é nossa vida quando nos propomos a isso. Falamos de amadurecimento psicológico e emocional, que são um dos princípios para conseguirmos olharmos para dentro de si e percebermos de que necessitamos nos conhecer e conhecer o outro para praticar a vontade de exercer o amor.

Retomo as palavras de Arnaldo Jabor quando ele diz que as pessoas hoje em dia querem “oba-oba”. Muito bom isso, né? Não, não é! Hoje eu saio com determinada pessoa, pois no dia de hoje eu só quero falar besteira e ela é adequada para isso. Amanhã, está pessoa não me serve mais, porque eu preciso de carinho, mas ela não supri isso, então, vou buscar em outra. E, no próximo dia, eu preciso de sexo selvagem, e nenhuma das duas me proporciona isso, então, o ideal sou eu buscar outra. E assim sucessivamente, até que um dia, pelo menos é isso que se espera, despertemos para a realidade e consigamos perceber que não podemos ter tudo isso exatamente da nossa forma num único ser, mas que podemos ter tudo isso de formas diferentes da nossa num único ser. E isso, sim, é muito bom!

É, e falamos, então, da reponsabilidade afetiva em relação ao outro. Já percebeu o vazio que sentimos quando nossa vida baseia-se nesse vai e vem de pessoas diferentes? Temos tudo, e não temos nada! Temos todas, mas não temos nenhuma! Não temos ninguém para chamar de meu amor, para dar risadas juntos, para passear de mãos dadas, para dormir abraçadinho, para falar bobagens sem receios... Porque, no final de tudo, somos nós com nós mesmos, com a nossa insatisfação, com o nosso vazio, com o nosso egoísmo de não querermos repartir a nossa vida com o outro. Reponsabilidade afetiva é mudar esse quadro, assumirmos que necessitamos sim de afeto, de carinho e de amor; que necessitamos sim amar e sermos amados, mas que para que isso ocorra necessitamos exercitar essa vontade de amar.

Essa vontade, junto com o querer, é quem impulsiona todo este processo. Se eu quero, eu tenho força de vontade. E se eu tenho força de vontade, eu luto, eu batalho, eu corro atrás e alcanço meu objetivo final, que no nosso caso é o amor, o relacionamento homem-mulher. Ah, mas isso envolve riscos: o risco de perder, o risco de errar, o risco de cair, o risco de parecer otário, e tantos outros. Ah, mas isso envolve compromisso: o compromisso com a nossa consciência, com o nosso eu interior, com as nossas metas e objetivos, com o outro, e tantos outros. Ah, mas isso envolve muito mais: trocas, fidelidade, lealdade, companheirismo, sinceridade, honestidade. E envolve duas importantes coisas que o ser humano ainda não sabe lidar: entrega e renuncia.

Ser responsável afetivamente, quando falamos no envolvimento com o outro, necessita da entrega a este ser, ao que ele é, ao que ele pode lhe oferecer, ao que ele proporciona de bom – e de ruim também, pois ninguém é perfeito -, ao que nós sentimos em relação a ele e ao relacionamento. Envolve renuncia, porque para conviver harmoniosamente com o outro, eu preciso abrir mão de aspectos da minha vida para favorecer este relacionamento com o outro. Não é deixar de sermos nós ou deixar de fazermos o que gostamos, mas é se entregar ao relacionamento de corpo, alma e coração, sem medo do futuro e encarando todos os pormenores que virão.

Aí chegamos ao ponto chave da reponsabilidade afetiva e que todos querem escapar: mas, eu vou deixar de pegar todas? É... vai! Mas, eu vou deixar de sair todas as sextas, sábados e domingos para a balada com os meus amigos? É... vai! Mas, eu vou ter que ser fiel, honesto e estar sempre presente? É...vai! Mas, mas, mas, mas, e então se chega à conclusão que é muito difícil essa “coisa” de assumir-se responsável afetivamente e que é melhor continuar sozinho mesmo, pois ainda temos muito o que viver, o que curtir, o que conhecer, antes de se prender a alguém; como se estar envolvido na responsabilidade afetiva significasse isso.

E ninguém se pergunta: mas, nos dias que eu não estiver muito bem de saúde, eu vou ter alguém para me levar café da manha na cama? É... vai! Mas, e quando meu chefe me desvalorizar dizendo desaforos, eu vou ter alguém para me ouvir sem me censurar? É... vai! Mas, e quando eu quiser não fazer nada, só ficar deitado quieto recebendo cafuné, eu vou ter isso sem ouvir xingos de que eu não estou “comparecendo”? É... vai! Mas, e quando eu não quiser fazer absolutamente nada, nem conversar, nem comer, nem nada, eu vou ter alguém que vai simplesmente me compreender por eu não ter tido um dia bom? É... vai! Mas, e quando eu estiver muito, muito, muito mal e não estiver dando nada certo na minha vida, será que mesmo assim, eu ainda vou ouvir eu te amo? É... vai! Porque isso é responsabilidade afetiva e compromisso afetivo, consigo e com o outro!

Irreal? Ilusório? Inviável? Impossível? Eu não acho nem irreal, nem ilusório, nem inviável e menos ainda impossível, porque eu acredito no amor! Apenas acho que um relacionamento baseado na responsabilidade afetiva exige mais dedicação de ambas as partes, ou de uma única parte que encare isso como algo a seguir independente do outro, pois já compreendeu o processo de determinar o amar como uma ação diária em sua vida. Não espere por um relacionamento perfeito ou um encontro de almas gêmeas, pois isto é raro. Espere por algo que você tenha condições efetivas de realizar, talvez até precise de ajuda, mas que desperte a alavanca propulsora: a força de vontade!

Assim, compreendemos que a responsabilidade afetiva começa por nós mesmos e ao amadurecermos somos capazes de estendê-la ao outro num relacionamento amoroso. O primeiro passo é determinar a minha ação e o segundo colocar o exercício do amor nesta ação. Coloquemos isso na nossa vida como prioridade e conseguiremos passar por todas as mazelas que um relacionamento traz, mas, também conseguiremos viver todas as maravilhas e encantos de um relacionamento baseado na responsabilidade afetiva.

Viviane Vasques
05-12-2011


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