Eu costumo dizer que temos a obrigação de
refletir bem antes de utilizarmos algumas palavras e, principalmente, alguns
verbos. Ser não é o mesmo que estar. Gostar não é o mesmo que amar. Omitir não
é o mesmo que mentir. E, por não darmos a devida atenção, nos confundimos muito
ao utilizá-los no nosso dia a dia. Antes de utilizarmos qualquer palavra, temos
a obrigação de refletir sobre o significado dela na nossa vida e na vida do
outro. Temos, inclusive, que refletir sobre a ordem destes verbos na nossa
vida, porque é essa ordem que inúmeras vezes pode demonstrar o que e quem
realmente somos...
Para mim (mais uma vez me permito apontar meu
ponto de vista) a vida, basicamente, segue através de 5 verbos principais:
sentir, falar, agir, estar e ser. Necessariamente nessa ordem e sem pular
etapas. Parece loucura e sim, eu parei para analisar logicamente se na prática
isso acontece. E acontece, pelo menos comigo! Para mim, a vida e as situações só têm sentido quando
segue essa ordem...Compreendendo estes verbos de acordo com o
dicionário, o sentir é perceber por meio de qualquer órgão dos sentidos (eu
incluo os sextos sentidos); o falar é expressar-se por palavras; o agir é
praticar ou efetuar algo na condição de agente, apresentando determinado
comportamento; estar é ser em um dado momento e ser é, dentre diversas outras
explicações, o que existe e a natureza íntima de uma pessoa.
Assim, o SENTIR implica perceber-se e
perceber o mundo. Implica ser sensível aos agentes externos do mundo que
refletirão nos agente internos de cada ser. Implica aprimorar o tato, o olfato,
o paladar, a audição e a visão, buscando explorar também a intuição e todos os
outros sextos (e sétimos e oitavos e nonos...) sentidos. Sentir, na prática, é
quando ficamos alegre com uma flor e este fato atinge não somente a nossa visão
e o nosso olfato, mas o nosso coração. Na prática, sentir é quando nos
decepcionamos tão profundamente que uma dor emocional se torna orgânica. E cada
um sente de formas diferentes, com intensidades diferentes e diante de estímulos
diferentes. É de fora para dentro...
E de fora para dentro, passa a ser de dentro
para fora. Tudo tem sentido se o sentir for expressado, num primeiro momento,
pela FALA, através de palavras bem colocadas e pensadas para que não nos
machuquemos e nem machuquemos o nosso próximo e para que não nos coloquemos em
situações embaraçosas nas quais corremos o risco de causar prejuízos. Dizer à
pessoa que cuidou daquela flor muito bem, é um meio de expressarmos a nossa
alegria e contentamento em ver algo tão belo. Assim como expressar por palavras
a outro ser o quanto determinada atitude nos deixou tristes. Outros verbos vem implícitos
no falar... e esse falar pode acalantar ou derrubar, pode elogiar ou
envaidecer, pode explicar ou complicar, sendo que tudo vai depender do uso que
se faz dele e da intenção.
E daí passamos ao AGIR. Só
sentir e não expressar, talvez seja pouco. Só expressar e não agir, talvez
perca todo o caminhar e a graça da vida. É o agir que consolida o que sentimos
e o que expressamos em palavras. Nos sentimos alegres com aquela flor,
expressamos por palavras tal sentimento e agora nos propomos a todos os dias
regá-la e buscar um resultado tão belo. O agir demonstra o quanto sentimos e
coloca a nossa fala em ação; ele é dinâmico, ágil e prova/comprova - ou não -
os verbos anteriores. Particularmente, eu considero este um dos verbos mais
difíceis de aplicar. Tão simples, tão fácil e tão complexo ao mesmo tempo. Já imaginou
um mundo em que as pessoas conseguissem transformar em ações todos os sentimentos
e as palavras que elas têm diariamente? E do agir, passamos a estar algo.
O ESTAR é algo passageiro, momentâneo. Como
vimos acima, o estar é ser algo por um determinado momento e diante de uma determinada
situação. Podemos não ser bons cuidadores de flores, mas naquele momento
estamos sendo bons cuidadores de flores. Nenhum ser é efetivamente se não
passar pelo estar. São sucessivos estar que nos tornam seres. Eu estou triste
hoje porque passei por uma situação difíceil, mas amanhã, com essa situação resolvida e
superada, eu volto a ser feliz. E são sucessivas repreensões do estar que
aprendemos a ser. É a prática do estar algo que nos modificamos para sermos
algo. E lógico, o estar envolve o momento atual... Estou corpo, estou
médico, estou magra, estou rica... Mas nada disso efetivamente me pertence,
pois eu sou espírito.
E chego ao SER. Uma das conquistas mais difíceis
e complexas de todos nós que nos encontramos nesse planeta, vivendo este
momento. Considero doloroso chegar ao ser, porque na maioria das vezes optamos pelo caminho da
dor para aprender a ser alguém (especialmente se optarmos a ser alguém de
valores éticos, morais e cristãos). Porque é isso que realmente somos. Podemos
passar uma vida inteira sentindo, falando, agindo e estando, mas só compreenderemos
o real sentido das coisas quando somos. Quando somos realmente bons - independentemente
da opinião alheia -, quando somos realmente aquilo que pregamos. Retomando o
exemplo, podemos sentir a alegria de ver uma flor, podemos expressar essa
alegria, podemos agir na sua vida, podemos estar sendo naquele momento um bom
cuidador dela, mas será que conseguiremos ser por toda a vida assim? Se sim,
nos tornarmos o ser, se não, ainda permaneceremos no estágio do estar. E só a
consciência de cada um determinará se tal fato é bom ou ruim. Assim, ser é uma
conquista única, que não nos é dado, não é ensinado, não é explicado e não acontece por milagre Divino. Ser exige
dedicação, renuncia, atenção, disposição. Ser remete a nossa essência, nossos
reais valores. E se há algo do qual não podemos fugir é do nosso ser... ele
dorme e acorda com a gente todos os dias, ele se mostra quando menos esperamos,
ele pode enganar a todos menos a nós mesmos, ele é transparente mesmo que nós
tentarmos fugir... porque ele é sútil, ele não necessita de palcos e aplausos,
ele se mostra nas pequeninas coisas e nos pequenos momentos.
A vida não se resume a isso e cada um de nós poderá ter uma visão completamente diferente de tais verbos e colocações, mas a minha
vida segue nessa ordem: sentir, falar, agir, estar e ser. Se isso é certo ou errado
não sei, mas no atual momento é isso que tem sentido para mim e é isso que
significa VIVER. Acredito que levarei inúmeras encarnações para conquistar o
ser de algumas coisas (e quanta dor ainda terei que suportar por conta disso),
mas sei que algumas eu já alcancei após um longo período de duras batalhas
interiores, de sofrimento, de quedas, de estar no fundo do poço. Hoje eu aceito
o que eu sou, o bom e o ruim que há em mim, e sigo em paz tentando modificar o
que eu ainda não consegui ser. E todos somos assim! Só há duas coisas nesta
vida que tenho certeza absoluta: que enquanto vivos vamos morrer e que todos
vamos ter que evoluir e chegar ao ser. E nessa evolução nos depararemos com
verbos melhores e mais fáceis de lidar (abraçar, beijar, elogiar, acarinhar...)
e com tantos outros menos felizes (machucar, odiar, decepcionar, mentir, enganar,
trair, falsificar...), mas todos seguiremos para o verbo fundamental, essencial
e mais perfeito: AMAR! Mas esse fica para um próximo texto :)
VIVIANE VASQUES
03/06/2012