Há um ditado popular que diz: "O dia do favor, é véspera da ingratidão", e quando alguém recita este ditado é para lamentar a ingratidão daqueles que acabam de receber ajuda e bem cedo esquecem favores recebidos em nada se prestando a auxiliar outros nas suas necessidades. O Evangelho ressalta a parábola do mal servidor, que tendo recebido, de seu Senhor, o perdão de suas dívidas, ao sair encontra um devedor seu e de forma impiedosa cobra, daquele, o que lhe era devido, sofrendo depois de seu Senhor, o castigo pela sua impiedade e pela atitude desmedida, sem usar de igual misericórdia. Jesus ensinava: fazer aos outros o que queremos que nos façam e servir sem esperar retribuição ou reconhecimento pelo suposto bem que fazemos; e os exemplos deixados por ele foram nesse sentido. O que vimos é que, em que pese todo o servir, na hora crucial estava só. Primeiro reuniu os 12 apóstolos, mais tarde, os 72 da Judéia, os 500 da Galiléia, aí vieram multidões sem conta. Mas na hora "H" estava só. Para os teosofistas, esta solidão é necessária porque o Criador é único e, portanto, solitário. Ensinam que a comunhão com Deus se dá no nosso íntimo e na nossa solidão, pois que só o solitário pode comungar com outro solitário. Vamos que na "Instrução Para os Doze", Jesus recomenda que os discípulos andassem, vilarejos afora, pregando e curando, sem nada exigir, nem recompensas, nem reconhecimentos, e sem nada levar, nem mesmo reservas do vestuário e do alimento para o corpo. Não sendo recebidos, que sacudissem o pó das sandálias e partissem para novas tentativas - Lucas 9: 1 a 5. Ali prepara os discípulos para a solidão e ensina que seguí-lo era um ato de solidão. Mas, uma solidão que não deve ser interpretada como "isolamento": a porta da salvação é estreita - só cabe um, dizia Ele; abandona o teu pai e a tua mãe, divide o que tens com o teu semelhante, toma a tua cruz e segue-me. Seguir Jesus, entretanto, é escalar a montanha da iluminação, experimentando, de um lado, o silêncio e a solidão do caminho, mas do outro, atmosfera sublimada e a visão privilegiada das alturas. A regra áurea dessa iluminação é "servir", "indistintamente", e seguir, "obstinadamente", mesmo passando despercebido para aqueles a quem servimos, exatamente para que as pessoas não se sintam em débito, com a obrigação de nos retribuir, e a vaidade não nos faça sentir credores por saciar fomes, aliviar dores, ou libertar consciências. Até nas nossas rogativas, Jesus sugere a solidão, o silêncio e o segredo: Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará - (Mateus 6: 6).
IRAN JACÓ MODESTO
(Jornal Informativo CEOS - Centro Espírita Obreiros do Senhor - /IAM - Institução Assistencial Meimei - Ano XXVI, Junho a Agosto de 2011, número 93).
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